Monday, April 10, 2006

Caso 8

Das nuvens carregadas caiam as primeiras lágrimas naquela primeira manhã outonal. Viriato, escondido entre grossos troncos das palmeiras, avistava ao longe um triste barco que velejava lentamente nas águas calmas. A dor corrompia-lhe o peito, atravessado pelo ardor dos remorsos. Enquanto recordava os últimos anos, as lágrimas de chuva encharcavam-lhe o rosto atingindo-o no coração.

O triste fado dos irmãos iniciou-se quando Viriato persuadiu o seu velho pai a deixá-los expandir a sua pequena retrosaria, denominada de Confecções Maravilha. Para alcançar esse objectivo, realizaram com Bráulio um contrato pelo qual este se vinculava a celebrar negócios jurídicos em todo o Algarve, entre o Pai de Viriato e diversos comerciantes da zona.

Este acordo que durou três anos, permitiu que As Confecções Maravilha se tornassem muito conhecidas em todo o Algarve, triplicando o seu volume de vendas.

O sucesso deste empreendimento motivou os irmãos a continuarem o projecto de expansão da empresa do seu pai. Aproveitaram que o contrato com Bráulio estava a terminar para dispensarem os seus serviços sem lhe pagarem qualquer importância.

A nova estratégia de expansão da empresa, teve como objectivo primordial a abertura de novos estabelecimentos comerciais em todo o país, mantendo o estilo do original e de acordo com as estritas indicações do proprietário das Confecções Maravilhas. Como não tinham dinheiro para este investimento, optaram por celebrar vários contratos, com diversos interessados, nos quais estes se obrigavam a realizar estes investimentos e a explorar por sua conta e risco estes estabelecimentos.

Para que o estabelecimento fosse conhecido em todo o país, Viriato persuadiu o seu irmão e pai a desenvolverem uma enorme campanha publicitária, quer na televisão, quer nas mais ouvidas rádios do país.

Como este investimento não teve retorno a empresa do pai de Viriato e Inocêncio deixou de ter capacidade para saldar os seus compromissos, acumulando em poucos meses elevadíssimos prejuízos, que condenaram irreversivelmente a empresa. Para evitar que os seus bens fossem penhorados pelos credores, o pai doou-os na sua totalidade aos filhos.

Quando a empresa foi encerrada, Viriato, que gastara rapidamente todo o dinheiro sonegado, aventurou-se na compra e venda de televisões; mas também nesta actividade acumulou prejuízos; confrontado pelo seu credor Gonçalo, assinou o documento em que este lhe exigia que pagasse a quantia em dívida a Ricardo, não sem antes Inocêncio garantir o pagamento pelo seu irmão.

Ricardo, porque também necessitava urgentemente de dinheiro, transmitiu este documento a Evaristo.

Evaristo, vencido o prazo estabelecido procurou sem sucesso o obrigado ao pagamento que, sabendo não poder cumprir havia fugido para uma pequena e esquecida aldeia de pescadores.

QVID IVRIS

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