Monday, April 10, 2006

Caso 11

Estava um dia absolutamente invernal, com uma chuva intensa que não dava descanso aos transeuntes incautos que haviam menosprezado a extrema necessidade de guarda-chuva. Na varanda, perto do velho aquecedor que tentava enganar o frio, o Detective Gongas contemplava com rancor os funcionários da empresa de leasing, enquanto estes carregavam todo o material do seu escritório, por motivo de não pagamento.
A tragédia financeira da sua actividade fez Gongas concluir pelo óbvio: era o momento de mudar de actividade. Por impulso, decidiu rumar ao Algarve, passar uns dias na casa do seu amigo ZéZé e procurar uma nova actividade.
Num dos seus passeios nocturnos deparou-se com uma decrépita fábrica de comida enlatada, no exacto momento em que uma estrela cadente atravessava os céus; este facto fê-lo recordar pelo seu juvenil gosto culinário e, arrastado pela mística combinação de factores, decidiu-se a dedicar o resto da sua vida à nobre causa da comida enlatada. Para tanto, tratou de negociar com o dono da fábrica a sua aquisição, o que sucedeu, pouco tempo depois, num contrato celebrado no Cartório Notarial de Albufeira, em escritura pública em que ZéZé compareceu, na qualidade de fiador, para grande desgosto do senhorio, que desejava a fábrica para si.
Gongas escolheu para se designar o nome civil do antigo proprietário, aditando-lhe a expressão O Rei da Sardinha Enlatada, para denominar a sua fábrica Pavilhão das Latas Suculentas e para comercializar os seus produtos Chef Cuisine Dupont.
Com o intuito de modernizar a sua fábrica Gongas contratou mais funcionários, comprou dois automóveis, uma casa para habitar perto da fábrica e adquiriu algumas máquinas, tendo contraído um empréstimo para realizar estas operações.
Estranhamente, os lucros foram inferiores às elevadas expectativas de Gongas: a situação piorou quando um credor do antigo dono da fábrica, confrontou Gongas com a necessidade de pagar 10.000,00 Euros de matérias-primas, entregues na fábrica, 15 dias antes de Gongas a adquirir.
Nesse mesmo dia Gongas, receando as dívidas que acumulou, decidiu que o Algarve não era ideal para si: pelo mesmo valor que adquiriu, alienou, por documento particular, a fábrica a Manuela Madalena Maria. Por a transacção ter sido muito rápida MMM (como era conhecida pelos seus amigos) desconhece exactamente o que comprou, nomeadamente se o imóvel lhe pertence, se é proprietária da marca e se está obrigada a pagar as dívidas contraídas pelos anteriores proprietários.
QVID IVRIS

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