Monday, April 10, 2006

Caso 10

Desde criança Susana sonhava em ser bailarina, de forma a poder interpretar as mais românticas coreografias. Ainda usava vestidinhos cor-de-rosa com folhos, com compridos caracóis que adorava enfeitar com os malmequeres que colhia na planície e já fitava deslumbrada os espectáculos culturais que preenchem os horários nobres das nossas televisões. Para sua enorme decepção, as poucas aulas de bailado que frequentou demonstraram que a sua principal aptidão não era a dança. Ainda assim, guiada pelo sonho e fantasia trocou as sapatilhas pelos livros, tornando-se uma estudiosa de coreografias de bailado.

Para prosseguir o seu sonho não hesitou em criar a sua companhia de dança. Para tanto celebrou um contrato com Sónia pelo qual lhe adquiriu uma galeria de arte, na qual existiu um auditório com capacidade para cem pessoas. Porém e porque Sónia era a sua mais intima amiga, este contrato foi celebrado apenas oralmente.

Entretanto e para angariar fundos para o espectáculo de dança, organizou uma exposição de pintura, em que expunha e vendia quadros de quatros artistas locais: um destes era Leonardo, um galã de origem italiana. Encantada, a nossa heroína – Susana – tornou-se fã da obra e do artista, tendo adquirido todos os seus quadros. Este negócio teve consequências ruinosas no património de Susana, que deixou de ter capacidade para cumprir as suas obrigações de forma irremediável. Ao tomar conhecimento da precária situação financeira de Susana, Leonardo deixou de responder aos seus telefonemas, e-mails e sms, tendo assumido uma relação sentimental com um modelo húngaro.

Os dois anos seguintes foram de penoso sofrimento; mas um dia a tempestade esvaneceu-se e regressou a bonança. Tudo começou num pequeno restaurante na praia da ilha do pessegueiro. Enquanto folheava a Cosmopolitan o seu olhar cruzou-me com o de Miguel alto, moreno, de olhos verdes, ombros perfeitamente delineados e um sorriso que derretia o mais impávido dos corações. Susana tremeu quando os seus olhares se cruzaram… o rosto de Miguel era, indubitavelmente, uma escultura perfeita.

A cumplicidade foi instantânea; nesse mesma tarde, não apenas trocaram os números de telemóvel, como as mais ternas confidências. Miguel era um jovem estilista alentejano que optou por abrir o seu próprio pronto-a-vestir de roupa para homem exclusivamente feita com tecidos de lã obtida de ovelhas criadas no Campo Branco. Para identificar o seu ateliê optou pela designação Versaci Masculini - Roupa do Alentejo e em atenção às carícias de Susana adoptou a denominação de Pura Seda Animal para identificar os seus produtos.

Ao ter conhecimento dos problemas financeiros de Susana, Miguel prontificou-se a aceitar uma letra por aquela emitida, de modo a pagar uma dívida desta a Carlos. Este, mal a recebeu transmitiu-a a Sérgio, que a perdeu numa discoteca. Paulo aproveitou-se do facto de não constar na letra o nome do seu beneficiário para a transmitir a Mateus, que ignorava o percurso da letra. Assim, no dia do vencimento Sérgio confronta Mateus e exige-se a entrega da letra. Mateus fica confuso, sem saber o que fazer...

QVID IVRIS

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