Tuesday, May 27, 2014

Caso 79



Era uma casa, muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada, ninguém podia, entrar nela, não, porque na casa, não tinha chão, ninguém podia, dormir na rede, porque na casa, não tinha parede, ninguém podia, fazer pipi, porque penico, não tinha ali, mas, não obstante tudo isso, era onde morava os Esteves sem Metafísica, que acreditava que se podia viver apenas de amor. E ele amava terrivelmente uma peste quase suína que o estava a dilacerar pelas entranhas. Mas mesmo não correspondido, evocava esse amor, porque sabia que amar a pessoa errada era melhor do que não amar e por certo, bem melhor do que falecer.
Ela chamava-se Prantelhana e tinham-se conhecido há uns meses, quando esta lhe vendeu a Tabacaria, para desgosto de Hermenegildo que era o proprietário do imóvel e acalentava o sonho de um dia ser dono da Tabacaria imortalizada por Álvaro de Campos. A Tabacaria chamava-se “Come Chocolates, Pequena” e atualmente vendia uns charutos, fabricados na própria tabacaria, que eram designados por “Roles Roice”.
O sonho do Esteves sem Metafísica era exportar os charutos para todo o mundo, pelo que se juntou a quatro outros fabricantes de charutos da sua cidade, para em conjunto calcorrearem todas as grandes feiras do mundo e mostrarem os seus produtos.
Mas fracassou! Passava noites inteiras a pensar na sua Prantelhana, que nunca foi sua e o atormentava com outros nomes, de outros homens, que a possuíam ser amor nem respeito. E a sua intranquilidade emocional foi um germe que lhe dizimou a Tabacaria e rapidamente viu-se na situação inelutável de ser incapaz de capaz as suas dívidas.
Desesperado, vendeu a sua humilde casa à sua prima Matrafona, de forma a não perder um pouco do seu mundo, para conseguir manter o espaço onde acalmava as suas lágrimas.
Quid Juris

No comments: