Thursday, February 16, 2012

Caso 69

Joaquim Sassa era o tipo de homem que se recusava a usar blusa de gola alta, porque adorava conversar com os seus botões; a manhã acordou-o desprotegido, cogitando sobre coisas impassíveis de uma racionalidade lógica, mistérios complexos da mente humana que nos roubam as palavras e repousam na incredulidade! Mas adiante, porque continuar é preciso… 

Sassa vivia frugalmente com os amplos rendimentos da venda dos seus romances bem como da produção e venda de presuntos e enchidos alentejanos, que denominava de serpenses. Era um homem feliz na sua solidão, embora, nos seus pecados íntimos escondesse o doce pecado da gula, no caso, um terrível feitiço por mulheres de olhares penetrantes, que o encantavam e depois o desgraçavam, nas ruelas da sua vida! 

E, porque o destino é o desgostoso fado da reincidência bruta, como outras vezes, quando os olhos dele se cruzaram nos olhos de Joana Carda, sentiu-se desventurado, feliz na sua desgraça, outra vez apaixonado; Carda era dona e legítima proprietária do café central, conhecido por refúgio da coitadinha de uma aldeia vizinha, onde Sassa se tinha deslocado para uma tertúlia gastronómica, acompanhada por néctar alentejano. Ciente da sua desgraça, Sassa declarou-se, prometeu-lhe um amor eterno pelo tempo que durasse e fez-lhe a irrecusável proposta de irem os dois viver um ano, para as praias quentes da Republica Dominicana, a expensas dele, porquanto, basta olhar para uma foto, para perceber o que ela gosta nele. Mas enfim, deixemos que cada uma construa a cama onde se deita!

Partiram dois dias depois; pelo meio ela fez um contrato com José Anaiço onde este se comprometia a explorar o café durante a ausência dela, sendo que, Maria Guavaira, dono do imóvel onde estava o café, ficou na mais completa e silenciosa ignorância!
O pagamento foi feito com um cheque, cujo pagamento foi garantido por Adalberto, datado de 30 de Março; porque faltavam apurar as existências, o valor estava omisso. Carda, aproveitou esse facto, colocou num cheque um valor muito acima do acordado e transmitiu-o a Genoveva que, um mês antes da data que estava no cheque, depositou-o! Mas a infelicidade bateu-lhe na porta e o cheque, para desespero dela, estava despido de provisão.

Tuesday, February 07, 2012

Caso 68


Era uma vez um lobo mau. As pessoas questionam muitas vezes porque é que as histórias começam por “era uma vez”, mas, esquecem-se que a razão é óbvia, ou seja, ninguém poderia escrever um texto cujo início fosse “eram duas vezes um lobo mau”! Excepto se o autor das linhas estivessem alcoolizado o que lhe provavelmente justificaria que estivesse a ver duas vezes o mesmo lobo. Mas, seja uma ou duas vezes, a verdade nua, crua e bruta é que o lobo mau era o chefe da floresta, uma espécie de Zé Camarinha do bosque, o zeloso zelador da mata, um apaixonado pela homogeneidade, que obriga as árvores a terem todos o mesmo tamanho, as mesmas folhas com o mesmo tom, cortando aquelas que se destacavam no horizonte! Admite-se que o comportamento do lobo mau está relacionado com o fato de passar o dia a perseguir a Capuchinho Vermelho e no fim da história comer a avozinha!
Um destes dias a Branca de Neve sentou-se exausta num banco de madeira, queixando-se da vida e dos impostos, agastada com o aumento do IVA, que lhe ia destruir o negócio: como o meu bom aluno sabe, a Branca tinha sete putos para alimentar, pelo que, para ganhar dinheiro, fazia na sua cozinha um deliciosos bolos conventuais alentejanos, que vendia para os melhores restaurantes da região, sendo que, os bolos eram designados por “deliciosos bolos conventuais alentejanos”.
Mas, mais que o IVA, o que inquinava a alegria da Branca de Neve era a labreguinha da Capucinho Vermelho, uma verdadeira sonsa, que o meu bom discente me permite o adjectivo, que, não apenas lhe roubou o namorado, como abriu uma casa de chá onde também servia doces alentejanos. A casa de chá situava-se numa retrosaria centenária, que o Pato Donaldo trespassou para o Capucinho Vermelho, sem cuidar de avisar o Tio Patinhas, esse terrível sovina que era o dono do imóvel. A casa de chá denominava-se de Antro das Calorias e ela para se identificar usava a expressão Gosto mais de ti do que de espinafres!
No dia da abertura ao público da casa de chá, a Capuchinho Vermelho ficou tão feliz, que foi passar um fim-de-semana de férias a Barcelona com o Gato das Botas, para fazer coisas que não posso contar confessar num teste, porquanto, sou rapaz tímido e porque não acho que se deva comentar em público as badalhoquices que fazem em privado! Nesta viagem gastou os bilhetes de avião, a estadia no hotel, comprou um ipad e uns comprimidos para a dor de cabeça.
Quando regressou, Capuchinho quis comprar o novo Beetle, convencida que desta forma conseguia que o Pato Donaldo se apaixonasse por ela; para tanto, entregou à empresa que lhe vendeu o carro um documento, cujo pagamento era garantido pela sua prima, a Bela Adormecida, em que se comprometia a pagar uma quantia a determinar posteriormente, porquanto, ela quis todos os extra possíveis para embelezar ainda mais o carro!  O drama é que o dono do Stand, Gato das Bocas, tinha uma relação extraconjugal com o Pica Pau Amarelo, pelo que, combinaram, transmitir-lhe o título após apor-lhe o dobro do valor acordado. Enquanto festejavam, embriagados, apareceu o Coelhinho e depois de os levar de comboio ao circo, roubou-lhes o título, falsificou a devida assinatura e transmitiu-o à ingénua Barbie que, confusa com tanto nome, não faz a menor ideia de quem lhe deve pagar aquele valor.
Enquanto isso, algures nesta obscura floresta, alguns animais procuravam ser sérios no seu trabalho… 

Caso 67


Leopoldina estava à janela com o seu cabelo à lua, enquanto Jesuíno a contemplava e lhe dizia que não se ia embora sem uma prenda dela, sem uma prenda sua. Leopoldina depois de anos a perseguir rapazes fogosos e musculados, daqueles que concorrem aos reality shows e deixam o mulherio possuído, tinha decidido apaixonar-se pelo supra citado Jesuíno, seus ex-padrasto. Para ser sincero, porque só se deve mentir a mulheres bonitas, Jesuíno tinha sido casado com a sua avó, pelo que, nunca tinha sido padrasto; acontece que, há uns anos, casada de ser filha da mãe, Leopoldina tinha resolvido ser filha da avó.
Jesuíno sustentava os caros vícios da sua amada, com os lucros do seu restaurante marítimo, ou seja, um barco quase do tamanho daquele italiano que emborcou de lado, onde servia comia sushi alentejano, acompanhado por queijos e vinhos, ao som de música rupestre. Identificava-se com a expressão “ai se eu te pego”, sendo que, o barco era denominado com “é o bicho é o bicho, eu vou-te pegar, eu vou”!
Enquanto isso, Leopoldina era artista: pintava e vendia quadros horrorosos de mulheres feias despidas; com os lucros das vendas foi fazer um curso de pintura a Paris, ou, pelo menos, assim acreditou Jesuíno e, quem sou eu, para duvidar das mentiras alheias.
Jesuíno tinha ainda um outro restaurante, em Serpa, a terra alentejana onde se come melhor, uma espécie de fast-food para comida lenta, embora, entre o barco e a Leopoldina, estava consumido de tempo, pelo que, celebrou um contrato com a Capucinho Vermelho do outro caso prático, em que esta se comprometia a explorar o restaurante por dois anos, com opção por outros dois, para desgosto do Zorro, um tipo esquisito que andava sempre de preto, que, dono daquele imóvel, desejava ser dono do restaurante. Aliás, quando uma daquelas vizinhas coscuvilheiras que há em todas as ruas, prédios e escolas lhe contou, teve um ataque de fúria e chorou cinco dias e cinco noites, como no romance.
O pagamento foi feito com um documento através do qual Capucinho se comprometia a pagar a Jesuíno, 15.000 euros no dia 29 de Fevereiro; Cinderela garantiu o pagamento do valor em caso de inadimplemento. A marota da Leopoldina, após amarrar Jesuíno, furtou-lhe o documento e transmitiu-o à sua amiga Popota, que, posteriormente, o usou para pagar à Clinica onde fez várias operações plásticas para perder 100 quilos entre dois natais. Como Capucinho fugiu para as Berlengas a Clinica está furibunda! E já dizia Platão, devemos ter cuidados com cirurgiões porque eles têm objectos esquisitos que cortam! 

Caso 66


Cinderela depois de anos e anos a experimentar sapatos e a beijar sapos, percebeu que essa história do príncipe encantado era um mito urbano, inventado por pessoas que não posso dizer quem são, por razões que não posso dizer quais são, pelo que, olhou-se ao espelho, teve consigo mesma uma conversa intimista e, percebendo que a sua única qualidade era a beleza óbvia de quem usa pouca roupa, decidiu casar com um velho e assegurar o futuro. E foi assim que se apaixonou pelo Padre Amaro, apelido de um empresário local, que tinha passado anos de Seminário.
O Padre Amaro tinha um call center, que prestava serviços para outras empresas, nacionais e portugueses. O call center era denominado de Como o macaco gosta de banana eu gosto de ti, sendo que era propriedade da Eu tenho dois Amores, Lda, a qual tinha como sócios o Padre Amaro que tinha entrado com 3000 Euros, Felisberta Loira que tinha entrado com 500 Euros, e Adalberta Morena, que tinha entrado com outros 500 euros. Quando Amaro quis abrir uma outra empresa, elas que eram duas, com ciúmes, votaram contra a proposta dele.
Cinderela para se entreter decidiu escrever um livro, que depois publicou, com o título de “as singularidades de uma labreguinha morena”, sendo que, usou o dinheiro dos lucros, para comprar um portátil que usou, exclusivamente, para escrever.
O Padre Amaro tinha ainda uma fábrica de queijos; cansado do cheiro a Ovelha, vendeu a fábrica à Diocese, que pretendia continuar a actividade e alarga-la produzindo queijinho do céu! O negócio foi feito oralmente, sem cuidar de avisar o Ambrósio, que tinha comprado aquele edifício com o dinheiro ganho na publicidade do Ferrero Rocher.
 O pagamento foi feito com dois cheques da Diocese, cujo pagamento foi garantido por um Rabino. Um dos cheques tinha a data de hoje e um com data de 29 de Fevereiro! Ganancioso, Amaro, foi ao Banco e exigiu o pagamento de ambos. Mas teve azar! Ambos vieram devolvidos por falta de provisão.