João António gritava mudo de uma
indignação pueril! Sentia-se profundamente angustiado, agastado e muitos mais
adjectivos que ele desconhecia o significado, mas por certo que significavam
algo premente e com toda a certeza que ele se sentia assim. Ou não, porque isto
dos sentimentos é sempre demasiado complexo para se entender. João António
estava desempregado, esclarecemos, porquanto há substantivos que nenhum
adjectivo é suficientemente forte para esclarecer! O antigo patrão de João
tinha gasto todo o seu dinheiro em álcool e mulheres malucas e a sua empresa
deixou de honrar os seus compromissos, deixando arrastar dívidas; as coisas
ainda pioraram quando o antigo patrão de João vendeu dois imóveis a uma dessas
mulheres malucas, por um valor obscenamente baixo.
Mas João António não era rapaz
para deixar que a vida o derrubasse; logo que a conjuntura lhe roubou o
emprego, foi ao centro da europa três vezes, para três vezes comprar carros,
que revendeu cá com lucro; cansado das viagens, dedicou-se ao mundo das
reparações e montou uma empresa de reparações ao domicílio; a empresa era
designada por “Faço Maravilhas na Sua Casa” e João designava-se de “Tenho um
jeito para trabalhos manuais que o vai deixar em êxtase”. A empresa
localizava-se num armazém, com uma renda tão barata que fazia rir trombudos! Os
negócios floresciam, mas João sentia-se entristecer, porque carregava consigo
um segredo que o consumia e roubava o sorriso; estava apaixonado por um rapaz
de gestão e escondia do mundo esse amor, pelo preconceito estupido de quem vê
na diferença um defeito. Um dia, depois de uma tarde de amor em que era suposto
estudar Direito, decidiram fugir e viver para um sítio paradisíaco; para
conseguirem dinheiro, João vendeu a sua empresa a Ernesto, sendo que, cedeu os direitos
no contrato de locação a Asdrubalino, para desgosto do seu senhorio.
Para comemorarem a decisão, João
foi ao site www.kualkerkoisa.kom e
comprou uma roupa toda em licra, linda de morrer, para oferecer ao seu amado;
após usar um ou dois dias, decidiram que era melhor devolver a roupa, porque
aquele era um tom de cor-de-rosa, absolutamente fora de moda.
Quando João vendeu a empresa a
Ernesto, este entregou-lhe um documento, onde se obrigava ao pagamento de uma
quantia a determinar, após uma auditoria, que iria estabelecer o valor final do
negócio, sendo que, Anicleto, era garante do pagamento; acontece que, o maroto
do aluno de gestão, ao ver o documento, falsificou a assinatura do namorado e
endossou o título para si, depois transmitiu-o para o ingénuo Bernardo Maria,
colocando no documento um valor muitíssimo acima do combinado. Bernardo, está
aflito de preocupação questionando a validade do documento, quem são os seus
devedores e qual o montante em dívida.
Quid Juris
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