Friday, June 29, 2012

Caso 70


Carina Alexandra é uma petiza amorosa, que esconde sobre um olhar intimidante um terno coração de ouro, uma postura angelical e inocente na vida, crente que o seu semelhante procura o bem, a paz e a fraternidade, o amor, os passarinhos, as pessoas felizes e os pratos tradicionais mediterrânicos, com excepção da paelha, por razões que são tão óbvias que até assustam, enfim, uma criatura amorosa que acredita que o Pai Natal vem com o coelhinho de comboio para circo.
Depois de anos num convento, onde se escondeu para carpir mágoas e vivenciar a sua catarse, cruzou-se com o sensual Xico Tuga, o Casanova da Planície e o seu coração galopou como égua assustada, sentiu-se inebriado num sentimento novo que desconhecia e entregou-se a uma paixão mais forte que ela, quebrou as amarras que a prendiam ao divino, para se entregar ao carnal; porque uma miúda não vive apenas de amor, dedicava-se a vender bolos conventuais, para os melhores restaurantes regionais, que fazia em sua casa e denominada de “divinos pecados”.
 Como os bolos eram ainda melhores que uma noite fresca de luar sobre dias quentes, Xico Tuga, persuadiu-a, entre outras coisas que me ficariam mal contar, a dedicar-se ao catering; para tanto criaram a “Se não gostas de bolos és florzinha, Lda”, com o capital social de 4000 euros, dividido em partes iguais, entre o casal, sendo que a sede uma um lindo e decrépito palácio, propriedade de Armandinho, com quem fizeram um contrato de locação. Porque ambos abominavam papéis, convidaram para gerente Ildefonso, analfabeto, mas um amor de pessoa. Meses depois, para adquirirem um carro para o transporte das mercadorias, os sócios reuniram num café e deliberaram que cada um deles iria entregar mais 12,500 Euros à sociedade, sendo que, o malandro do Xico, nunca o fez. Ainda por cima, o malandro do Ildefonso, em vez de comprar o carro de mercadorias, comprou um descapotável, na expectativa de ficar sensual e conseguir o afecto carnal das mulheres dos outros.
Mas fez outras coisas, nomeadamente, dois filhos a Carina Alexandra, que se chamariam Hermenegilda e Hermenegildo, em homenagem ao padre da paróquia, que, dizem as más línguas, coisas que por pudor aqui não repito.
Os negócios só não correram melhor porque a maléfica Cinderela era dona de uma empresa concorrente e começou a vender os seus serviços com um preço inferior ao seu custo.
Mas o sonho esvaneceu-se numa noite de verão: ao regressar inusitadamente a casa, encontrou Xico Tuga a comer um brigadeiro que não era seu, nos braços desnudas da invejosa Doroteia, judas na pele de amiga, que por mesquinha inveja tinha arrastado Xico para o pecado. Carina decidiu nesse dia alienar tudo a Ermelinda, por documento escrito, sem nada dizer a ninguém e regressou ao convento, onde nunca mais pronunciou uma palavra!
Quid Juris

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