Carina Alexandra é uma petiza
amorosa, que esconde sobre um olhar intimidante um terno coração de ouro, uma
postura angelical e inocente na vida, crente que o seu semelhante procura o
bem, a paz e a fraternidade, o amor, os passarinhos, as pessoas felizes e os
pratos tradicionais mediterrânicos, com excepção da paelha, por razões que são
tão óbvias que até assustam, enfim, uma criatura amorosa que acredita que o Pai
Natal vem com o coelhinho de comboio para circo.
Depois de anos num convento, onde
se escondeu para carpir mágoas e vivenciar a sua catarse, cruzou-se com o
sensual Xico Tuga, o Casanova da Planície e o seu coração galopou como égua
assustada, sentiu-se inebriado num sentimento novo que desconhecia e entregou-se
a uma paixão mais forte que ela, quebrou as amarras que a prendiam ao divino,
para se entregar ao carnal; porque uma miúda não vive apenas de amor,
dedicava-se a vender bolos conventuais, para os melhores restaurantes
regionais, que fazia em sua casa e denominada de “divinos pecados”.
Como os bolos eram ainda melhores que uma
noite fresca de luar sobre dias quentes, Xico Tuga, persuadiu-a, entre outras
coisas que me ficariam mal contar, a dedicar-se ao catering; para tanto criaram
a “Se não gostas de bolos és florzinha, Lda”, com o capital social de 4000
euros, dividido em partes iguais, entre o casal, sendo que a sede uma um lindo
e decrépito palácio, propriedade de Armandinho, com quem fizeram um contrato de
locação. Porque ambos abominavam papéis, convidaram para gerente Ildefonso,
analfabeto, mas um amor de pessoa. Meses depois, para adquirirem um carro para
o transporte das mercadorias, os sócios reuniram num café e deliberaram que
cada um deles iria entregar mais 12,500 Euros à sociedade, sendo que, o
malandro do Xico, nunca o fez. Ainda por cima, o malandro do Ildefonso, em vez
de comprar o carro de mercadorias, comprou um descapotável, na expectativa de
ficar sensual e conseguir o afecto carnal das mulheres dos outros.
Mas fez outras coisas, nomeadamente,
dois filhos a Carina Alexandra, que se chamariam Hermenegilda e Hermenegildo,
em homenagem ao padre da paróquia, que, dizem as más línguas, coisas que por
pudor aqui não repito.
Os negócios só não correram
melhor porque a maléfica Cinderela era dona de uma empresa concorrente e
começou a vender os seus serviços com um preço inferior ao seu custo.
Mas o sonho esvaneceu-se numa
noite de verão: ao regressar inusitadamente a casa, encontrou Xico Tuga a comer
um brigadeiro que não era seu, nos braços desnudas da invejosa Doroteia, judas
na pele de amiga, que por mesquinha inveja tinha arrastado Xico para o pecado.
Carina decidiu nesse dia alienar tudo a Ermelinda, por documento escrito, sem
nada dizer a ninguém e regressou ao convento, onde nunca mais pronunciou uma
palavra!
Quid Juris
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