Thursday, July 05, 2012

Caso 72


António João gritava mudo de uma indignação pueril! Sentia-se profundamente angustiado, agastado e muitos mais adjectivos que ele desconhecia o significado, mas por certo que significavam algo premente e com toda a certeza que ele se sentia assim. Ou não, porque isto dos sentimentos é sempre demasiado complexo para se entender. António João estava desempregado, esclarecemos, porquanto há substantivos que nenhum adjectivo é suficientemente forte para esclarecer! O seu antigo patrão, Juvenal, tinha sido vítima da conjuntura e de erros próprios e uma empresa antes próspera estava hoje impossibilitada de cumprir os seus compromissos; Juvenal, temeroso de perder tudo, colocou a sua casa em nomes dos filhos e os carros em nome da mãe.
Mas António João não era rapaz para deixar que a vida o derrubasse; logo que a conjuntura lhe roubou o emprego, dedicou-se à pintura e viveu uns meses a vender obras de arte. Como a sorte protege os audazes, decidiu abrir a galeria de arte com o nome “Galeria de Arte” onde vendia as obras de outros pintores. Para se identificar enquanto pintor usava a designação Magritto e para designar-se enquanto dono da galeria, Magritto, porque, ele tinha imensas virtudes, mas a imaginação não era prodigiosa.
Foram anos felizes para António, até que num fim de tarde de verão, numa daquelas tardes insuportavelmente quentes, teve um problema de coração: apaixonou-se. Por uma aluna de gestão de empresas cujo sorriso fez derreter o seu bruto coração; e logo que os recíprocos olhares se cruzaram, António percebeu que estava destruído.
Deixou de pintar, perdeu paciência para procurar novos artistas, perdeu acutilância nas vendas e assistiu de sorriso no rosto ao desmoronar de tudo o que construiu; quando as dívidas começaram a soterra-lo, vendeu a galeria a Edmundo, sem dizer a ninguém, nem sequer ao senhorio.
Quando chegou a casa, comprou uma bimby, a uma vizinha que lhe tinha pedido para usar a casa dele para uma demostração. Ou pelo menos, eu acho que foi uma bimby, que sou um rapaz conservador e percebo pouco de modernices. Tal como António, que uma semana depois já estava mais arrependido do que os portugueses que compraram bilhete para a final do campeonato de europa.
Quando António vendeu a empresa a Edmundo, entregou-lhe um documento, onde ordenava ao Banco o pagamento, sendo que, Anicleto, era garante do pagamento; acontece que, Asdrubal ao ver o documento, falsificou a assinatura do tomador e endossou o título para si, depois transmitiu-o para o ingénuo Bernardo Maria, que está aflito de preocupação, após o pagamento lhe ter sido recusado, por falta de provisão.
Quid Juris

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