António João gritava mudo de uma
indignação pueril! Sentia-se profundamente angustiado, agastado e muitos mais
adjectivos que ele desconhecia o significado, mas por certo que significavam
algo premente e com toda a certeza que ele se sentia assim. Ou não, porque isto
dos sentimentos é sempre demasiado complexo para se entender. António João estava
desempregado, esclarecemos, porquanto há substantivos que nenhum adjectivo é
suficientemente forte para esclarecer! O seu antigo patrão, Juvenal, tinha sido
vítima da conjuntura e de erros próprios e uma empresa antes próspera estava
hoje impossibilitada de cumprir os seus compromissos; Juvenal, temeroso de
perder tudo, colocou a sua casa em nomes dos filhos e os carros em nome da mãe.
Mas António João não era rapaz
para deixar que a vida o derrubasse; logo que a conjuntura lhe roubou o
emprego, dedicou-se à pintura e viveu uns meses a vender obras de arte. Como a
sorte protege os audazes, decidiu abrir a galeria de arte com o nome “Galeria
de Arte” onde vendia as obras de outros pintores. Para se identificar enquanto
pintor usava a designação Magritto e para designar-se enquanto dono da galeria,
Magritto, porque, ele tinha imensas virtudes, mas a imaginação não era
prodigiosa.
Foram anos felizes para António,
até que num fim de tarde de verão, numa daquelas tardes insuportavelmente
quentes, teve um problema de coração: apaixonou-se. Por uma aluna de gestão de
empresas cujo sorriso fez derreter o seu bruto coração; e logo que os
recíprocos olhares se cruzaram, António percebeu que estava destruído.
Deixou de pintar, perdeu
paciência para procurar novos artistas, perdeu acutilância nas vendas e
assistiu de sorriso no rosto ao desmoronar de tudo o que construiu; quando as
dívidas começaram a soterra-lo, vendeu a galeria a Edmundo, sem dizer a
ninguém, nem sequer ao senhorio.
Quando chegou a casa, comprou uma
bimby, a uma vizinha que lhe tinha pedido para usar a casa dele para uma
demostração. Ou pelo menos, eu acho que foi uma bimby, que sou um rapaz
conservador e percebo pouco de modernices. Tal como António, que uma semana
depois já estava mais arrependido do que os portugueses que compraram bilhete
para a final do campeonato de europa.
Quando António vendeu a empresa a
Edmundo, entregou-lhe um documento, onde ordenava ao Banco o pagamento, sendo
que, Anicleto, era garante do pagamento; acontece que, Asdrubal ao ver o
documento, falsificou a assinatura do tomador e endossou o título para si,
depois transmitiu-o para o ingénuo Bernardo Maria, que está aflito de
preocupação, após o pagamento lhe ter sido recusado, por falta de provisão.
Quid Juris
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