Tuesday, July 14, 2009

CASO 52



Estava um dia medonho de calor, com humidade alta que sufocava quem desafiava as leis do descanso e insistia em sair de casa, pelas horas do calor. Mariana estava a assar sardinhas, numa barraquinha frente à Praia do Alvor. Era uma mania sua: uma vez por ano, ia vender sardinhas com gaspacho alentejano para a praia onde tantas vezes tinha sido feliz. Por razões que agora não interessam.
Como todos os anos, comprava as sardinhas à bela Inês, que tinha a fama de ter o mais belo bigode de todo o Algarve; tatuagem a dizer Angola e Moçambique década de 90, sempre vestida de amarelo florescente, era quase bonita e quase sensual, considerada a melhor peixeira do Barlavento e Sotavento.
Neste dia Inês estava orgulhosamente feliz: Mário tinha-a pedido em casamento e a cerimónia ia ser na próxima semana, numa Igreja perto de si! O vestido era amarelo, obviamente e, era tão bonito, que Mário quis casar com um igual.
Na sua actividade Inês era conhecida como A peixeira do Povo e a sua loja tinha o nome “ai carapau”.
No dia do casamento, Inês contou aos convidados a razão pela qual tinha convencido Mário a casar com ela: estava grávida de cinco meses, após uma loucura de Carnaval, em que Inês se tinha mascarado de zezé camarinha, tendo desta forma conquistado o homem que sempre amou perdidamente!
Quando Inês viu o preço das fraldas, decidiu ampliar a sua actividade, com medo de deixar de conseguir pagar as suas contas após o nascimento do filho. Para isso, comprou a peixaria do Vasquinho da Anatomia, sem que nenhum dos dois comunicasse o negócio a Bia Xica, proprietária do imóvel e que acalentava o sonho de ser peixeira!
Bia Xica ao saber do negócio, não disse “lol”, antes pelo contrário: ficou desesperada!

Quid Juris

Friday, July 10, 2009

Caso 51

Bia Xica é prima direita da Xica Bia. Muito mais feia que a prima, descuidada, apenas compra roupas nos chineses, não vai ao cabeleireiro nem faz depilação, nunca na vida irá fazer uma operação plástica, não sabe o que é uma “bimba”, pelo que nunca pensou fazer mal ao marido usando aquela máquina de cozinha, mas tem a grande vantagem de não cheirar mal dos pés e usar um desodorizante competente, bem como, conseguir contar até trinta, em cinco línguas diferentes.
Aborrecida em casa, sem nada para fazer, ligou para uma loja de decoração e chamou-os a sua casa, porque queria mudar as cortinas de todos os quartos da habitação. Gostou muito das amostras que lhe mostraram e encomendou o tecido. Dois dias depois de receber a encomenda, quis desistir, porque achou que o amarelo estava fora de moda e pretendia decorar toda a casa com roxo. Com bolinhas amarelas, para ser igual a um biquíni da prima!
Para o fazer ligou a sua internet e começou a pesquisar sites de decoração: optou por comprar em
www.maisquecincopaginasmato-os.mesmo as cortinas que desejava. Mais uma vez mudou de ideias, e vinte dias depois devolveu as mesmas, porquanto no documento que imprimiu estava escrito que o direito de resolução era por 21 dias!
Bia Xica namorada há cinco longos anos com Zé Tuga, um mulherengo de primeira, que a traia com todos os homens da vizinhança, especialmente os que estudavam gestão de empresas ou que tinham esposas e namoradas neste curso! (tentou professores do curso, mas não teve sorte!).
Zé Tuga dedicava-se à importação de pirilampos, directamente de um sítio longínquo onde há muitos bichos destes. Porque pediu uma enorme quantidade e o importador não sabia se conseguia reunir todos, enviou-lhe um título de crédito sem que o valor estivesse inscrito no título, através do qual Zé Tuga prometia pagar a quantia a determinar, ao Importador XicoJoseph. Este, carenciado de dinheiro, colocou no título um valor acima do acordado e passou o mesmo ao seu compincha, ManuelSon; receoso, este voltou a passa-lo, sem nunca o assinar, a Lolito, que apenas o aceitou após JosephManeli, garantir o seu pagamento.
No dia do vencimento, ninguém quer pagar o título e alegam que o obrigado a pagar é o prof. de Direito, para aprender a não chatear as pessoas com casos práticos com nomes estranhos!
Quid Juris

Friday, July 03, 2009

Caso 50

Xica Bia é uma mulher linda e graciosa, corpinho de sereia Danone, curvas de ilha nas Caraíbas, um olhar de Sodoma e Gomorra e uns lábios grossos e carnudos, com a sensualidade gritante susceptível de fazer derreter o mais teimoso dos corações. Xica Bia apenas não é uma mulher perfeita, devido a cheirar terrivelmente mal dos pés!
Mas o Aurélio não se importava com detalhes de olfacto: era tremendamente apaixonado por ela e mesmo quando ela lhe batia, ele chorava sem se queixar!
Para a agradar Aurélio, comprou-lhe no site
www.norecursovoltamcátodos.ehehe uma viagem de férias de um semana para o Egipto, cuja partida seria no dia seguinte, bem como um ar condicionado portátil .
No dia que lhe ia oferecer as prendas, foi prendado com a prova provada do adultério da Xica Bia, apanhando-a a fazer coisas que por pudor não descrevo aos meus alunos, com o tresloucado do Xico Tuga. Cego de ciúmes e raiva quando recusaram a sua proposta de se juntar a eles, Aurélio foi para casa e bebeu duas garrafas de Vinho dos Grous, Tinto, Reserva de 2006.
Três dias depois, após passar a dor de cabeça e sensação de rolha na boca, quis devolver as prendas, tendo o site recusado!
Aurélio regressou ao trabalho! Ligou o computador, falou no msn, foi a sites de futebol e blogues de desenhos animados até que recebeu a visita da empresa Chato do Prof. que vendia morangos sem chantilly. Encantado, apressou-se a comprar todas as existências da empresa, para apenas três dias depois perceber que não podia pagar o preço.
O pagamento foi feito com base num titulo de crédito através do qual Aurélio se obrigava a pagar um quantia a determinar, no dia 30 de Setembro à empresa Chato do Prof. Um dos dois gerentes desta empresa, após colocar um valor acima do combinado, passou o titulo a Hermenegildo, que por sua vez o transmitiu a Genoveva, após Cornélia garantir o pagamento da mesma. Na data do vencimento, Aurélio fugiu para Espanha com um aluno de gestão de empresas, onde viveram felizes para sempre, eternamente apaixonados, durante quase dois meses!
Quid Juris


Wednesday, July 01, 2009

Caso 49



A Cinderela estava farta de arrumar sapatos e sem paciência para aturar o mau humor da madrasta e com um valente par de trombas porque o aspirador avariou e teve de varrer a casa toda, temendo não se despachar a tempo de ir curtir para uma rave!
Ainda por cima estava um daqueles dias de tanto calor, que por mais desodorizante que se use, por mais perfume que se coloque, fica sempre um odor desagradável debaixo das braços!
Cinderela tinha dois sonhos: um deles era envenenar as filhas da madrasta e o outro era comprar um computador portátil daqueles muito pequenos, (tão pequenos que não se conseguem ver as letras) para o poder esconder das “manas” que passavam o tempo na Internet a procurar namorados.
Conseguiu arranjar o dinheiro a lavar escadas no Bairro onde morava e, quando juntou a quantia necessária, foi à Borten e conseguiu comprar um computador, cujo preço de venda ao público era inferior ao preço de custo!
Como lhe sobrou dinheiro, aproveitou o convite da sua intima amiga Branca de Neve e foi a casa dela, onde estavam a fazer uma reunião na qual se vendiam produtos. Comprou o que pensava necessitar mas, mal chegou a casa percebeu que tinha gasto mais do que podia, pelo que chorou desesperada sem saber como podia terminar aquele contrato!
Como estava deprimida e com um terrível cheiro debaixo dos braços, porquanto tinha passado todo o dia a passear na cidade de Beja em pleno mês de Julho, ligou a Internet e foi comprar algo, de forma a ficar menos deprimida!
Depois de muito pesquisar, comprou uma bimba, que é uma espécie de máquina de cozinha para quem não sabe ou não gosta de cozinhar! Para fazer o pagamento da mesma, enviou ao vendedor um cheque com data de 09 de Setembro. Recebeu a máquina, mas ficou terrivelmente desiludida, quando constatou que a máquina era inapta para triturar órgãos humanos: por essa razão, apressou-se a devolver a máquina e a exigir o dinheiro de volta, apesar de ter assinado um contrato onde renunciava ao direito de livre resolução.
O vendedor – O senhor Bimbo – não apenas não devolveu o cheque, como o endossou ao António, que por sua vez o endossou ao Bento, que exigiu o aval de Carlos. Cinderela devia ter ficado preocupada, mas não ficou! Afinal ela tinha roubado o cheque à madrasta e falsificado a assinatura desta…
Quid Juris

Friday, April 17, 2009

Caso 48


Era de noite mas podia perfeitamente ser de dia. Ou se calhar até era de dia e eu estou a confundir e digo que tudo isto se passou de noite. Como se fosse relevante ser de noite ou de dia, de dia ou de noite!
Xica Bia continuava de coração partido, depois das sevícias do italiano com cara de anjo e mente de demónio, desiludida com os homens e a vida, mas carregando consigo a determinação dos audazes! Depois de cumpridos todos os prazos legais relacionados com as suas fracassadas anteriores experiências, depois de lhe ser permitido dedicar-se livremente ao comércio, Xica Bia começou a magicar novas actividades a que se pudesse dedicar!
O primeiro passo foi procurar dentro de si as suas melhores qualidades, aquilo que podia fazer excepcionalmente bem, melhor do que a maioria das pessoas! E descobriu dois talentos: apaixonar-se pelo homem errado e cozinhar!
Escolheu dedicar-se à segunda! Com o dinheiro de uma herança, comprou um imóvel e instalou lá uma pizzaria a que chamou MassDonald`s, sendo que para identificar os seus produtos escolheu a denominação Soraia Chaves.
O negócio correu muitíssimo bem, até ao dia em que começou a correr muitíssimo mal! Tudo por culpa do padeiro. Xica Bia encantou-se com as mãos que moldavam o pão, perdeu-se nos encantos daquela farinha, entregou o seu coração e quando percebeu o padeiro fugiu com toda a “massa” dela, deixando-a irremediavelmente cheia de dívidas. Para as pagar, ainda vendeu a pizzaria a Ambrósio – que pretendeu mudar de vida, depois de anos e anos a servir bombons à senhora -, sendo que, o negócio foi feito oralmente na mesma noite em que o padeiro fugiu, sem que do mesmo se tenha informado ninguém.
Mas nem o dinheiro da venda salvou Xica Bia da insolvência. Arruinada tomou duas decisões: concorrer às próximas eleições autárquicas e dedicar-se à produção de ovelhas, que iria vender no Mercado Municipal.

Thursday, April 16, 2009

Caso 47

Xica Bia estava profundamente deprimida, triste consigo, com a sua vida, com as suas escolhas erradas. Tinha abandonado tudo para lutar pelos caminhos que o seu coração ordenou, mas rapidamente constatou que o coração é um músculo perverso e enganador, que adora pregar-nos partidas. Xica Bia tinha lutado contra todos os moinhos de vento do seu pequeno mundo e depois de todo o esforço concluiu que o amor que sentia por Bruno era fruto da sua imaginação. Mas nunca culpou Bruno: afinal ele não tinha culpa de ser como era…

Xica Bia deixou a sua vida, tal como a conhecia, para trás. Mudou de cidade, de amigos e de corte de cabelo. Até a roupa mudou. Quase toda!

Para sobreviver resolveu dedicar-se a fazer e vender colares artesanais, que vendia às mais vaidosas alunas de Gestão de Empresas, bem como a um aluno que as usava escondidas! Mas Xica Bia desejava mais da sua vida!

Dirigiu-se ao Centro de Emprego, perscrutou as oportunidades e decidiu aventurar-se numa agência matrimonial, procurando colocar em contacto almas gémeas, organizando também as festas de casamento!

Para se identificar escolheu a designação a Xica Casamenteira e para designar o local onde exercia esta actividade escolheu o nome Soraia Chaves, em homenagem à conhecida actriz.

Durante quase um ano foi feliz a realizar esta actividade. Até que o seu tonto coração lhe pregou mais uma rasteira e Xica Bia apaixonou-se estupidamente por Paolo, um italiano com cara de mau, corpo cheio de músculos, lindo e inútil, sensual mas abusador de mulheres. Bastaram seis dias para Xica Bia decidir largar tudo e seguir viagem com ele, sem rota, sem destino, vivendo da paixão e do acaso. Para ganhar dinheiro, contratou com Felismina, ficando esta durante um ano com a agência, contrariamente à vontade expressa do senhorio de Xica Bia.

Mas as coisas correram igualmente de forma trágica na agência, porquanto Felismina queria para si todos os candidatos. Ano e meio depois do negócio, a agência só dava prejuízos. O que levou Xica Bia a arrendar uma loja e dedicar-se ao comércio de fruta!



Monday, April 13, 2009

Caso 46

Conheci-a num dia de denso nevoeiro; recordo-me como se tivesse sido hoje! Era um fim de tarde, de um dia frio, apesar de o calendário marcar a Primavera e nos convidar para os tons quentes de Verão. Mas estava inusitadamente frio. Muito frio. Estava sentado com o mp4 a ouvir musica e a ler o Leitor de Bernhard Schlink, quando ela emergiu do denso branco, uma verdadeira miragem, uma autêntica princesa: vestiu umas calças de ganga, daquelas com pequenos rasgou que estão na moda, umas botas pequenas, uma blusa de lã grossa e um casaco azul, apertado, arredondando-lhe as formas. E sorria. O mais lindo sorriso do mundo…
Nunca soube o seu verdadeiro nome, apenas a alcunha com que todos a designavam: Xica Bia!
Xica Bia cultivava as mais belas margaridas do Sul do País e vendia-as com orgulho nas melhores floristas do Alentejo e Algarve. E ganhava bastante dinheiro. Mas pouco para ela, que tinha o secreto desejo de se tornar rica, bem mais rica que o cruel Sebastião que a deixara anos antes, para casar com Felisbela, a mais rica donzela da sua aldeia!
Por isso, muniu-se de toda a sua ambição e comprou a Juvenal a florista dele, sem que ninguém tenha sido informado deste negócio. Para se designar adoptou a denominação XicaBia e para designar a florista, Pataniscas dos Restolho, sendo que todas as flores que vendia, sejam ou não cultivadas por ela, se denominavam por Noquia!
Apesar de o seu primo a ter aconselhado, Xica Bia após começar a sua actividade, não cumpriu nenhuma das obrigações legais a que estava obrigada. O seu único objectivo era ganhar o máximo de dinheiro, o mais rapidamente possível, correndo todos os riscos necessários. Até que as coisas começaram a correr tragicamente mal, com os credores a bater na sua porta, porque há três meses que ela não conseguia pagar facturas.
Por isso, decidiu fechar a florista e abrir um bar, ciente que se os alunos de gestão não são flores, comecem imenso álcool, pelo que poderia ter elevadíssimos lucros.
Quis Juris