Era uma casa, muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada, ninguém
podia, entrar nela, não, porque na casa, não tinha chão, ninguém podia, dormir
na rede, porque na casa, não tinha parede, ninguém podia, fazer pipi, porque
penico, não tinha ali, mas, não obstante tudo isso, era onde morava os
Esteves sem Metafísica, que acreditava que se podia viver apenas de amor. E ele
amava terrivelmente uma peste quase suína que o estava a dilacerar pelas
entranhas. Mas mesmo não correspondido, evocava esse amor, porque sabia que
amar a pessoa errada era melhor do que não amar e por certo, bem melhor do que
falecer.
Ela chamava-se Prantelhana e
tinham-se conhecido há uns meses, quando esta lhe vendeu a Tabacaria, para
desgosto de Hermenegildo que era o proprietário do imóvel e acalentava o sonho
de um dia ser dono da Tabacaria imortalizada por Álvaro de Campos. A Tabacaria
chamava-se “Come Chocolates, Pequena” e atualmente vendia uns charutos,
fabricados na própria tabacaria, que eram designados por “Roles Roice”.
O sonho do Esteves sem Metafísica
era exportar os charutos para todo o mundo, pelo que se juntou a quatro outros
fabricantes de charutos da sua cidade, para em conjunto calcorrearem todas as
grandes feiras do mundo e mostrarem os seus produtos.
Mas fracassou! Passava noites
inteiras a pensar na sua Prantelhana, que nunca foi sua e o atormentava com
outros nomes, de outros homens, que a possuíam ser amor nem respeito. E a sua
intranquilidade emocional foi um germe que lhe dizimou a Tabacaria e
rapidamente viu-se na situação inelutável de ser incapaz de capaz as suas
dívidas.
Desesperado, vendeu a sua humilde
casa à sua prima Matrafona, de forma a não perder um pouco do seu mundo, para
conseguir manter o espaço onde acalmava as suas lágrimas.
Quid Juris